domingo, 9 de dezembro de 2012

En route

Eu estou morrendo.

Eu estou morrendo, sozinho, uma gota de sangue, suor e lágrima de cada vez.

O silêncio dela me agride como nada mais poderia. O vazio dos dias é... pesado.

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Me corto. Não sei porquê. Parece que o meu desespero fritou o centro de dor que há no meu cérebro, e não sinto mais dor física por mais que um segundo ou dois. Meu braço parece meu pequeno mapa ao inferno, feito de retas escarlates.

E arranquei um dente essa semana. Ele estava me incomodando, então fiu ao banheiro com dois removedores de grampo e o arranquei em uma mini-explosão de sangue, me limpei, e voltei ao trabalho. Isso me fez pensar o que mais eu conseguiria fazer comigo mesmo sem me importar com a dor. Será que conseguiria fazer como Dali, e arrancar uma orelha? Ou talvez um dedo? Eu precisaria de uma faca de destrinchar pra isso; não acho que minha navalha sirva pra mais que esses cortes superficiais e inconsequentes que faço.

Não quero pensar nisso.

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A culpa não é dela. A responsabilidade não é dela. Eu estraguei tudo. Ela deveria se afastar de mim. Eu ofereço perigo a mim mesmo e a outros. Ela merece algo melhor. Ela tem a minha alma na palma da mão dela, e a acha nojenta.

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Em alguns momentos, consigo sentir o ponto de ruptura da minha mente, e o acaricio. Sinto aqueles momentos chaves em que, se eu começar a rir, ou a chorar, não vou parar mais. Aquele nível de sanidade que, se cair abaixo dele, vai tornar-se o novo valor padrão.

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Eu não ouço vozes, eu não vejo coisas que não estão lá, eu não sinto insetos rastejando sob minha pele, e quando olho no espelho, vejo meu rosto, em toda sua glória despenteada e barbuda. Eu não tenho pensamentos homicidas, eu não desejo mal a ninguém, e tento ser agradável e sociável com todos que encontro.

Eu apenas planejo meu suicído. Continuamente. Inutilmente. Eu não irei me matar. Não sou egoísta o bastante pra isso ainda.

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